Falei. Por gestos, por músicas, por gemidos, por olhos, por
lágrimas escondidas. Contei toda a minha bagagem e o emaranhado de idéias da
minha cabeça fervente, sabendo que a freqüência dos teus pensamentos flui na
mesma sintonia da minha mente inquieta. Falei sobre as minhas feridas e sobre
as vezes em que meu coração e minha alma ficaram em pedaços. Contei que, apesar
de tudo, me jogo com o coração inteiro e remendado em uma nova aventura. Falei
da paz que eu carrego e da felicidade que transborda quando vejo teu sorriso cheio
de sentidos a me engolir.
E eu caí. Caí de paraquedas bem na tua frente. Te sorri
sincero e encostei meu nariz no teu, sem pensar em quantas vezes isso já te
aconteceu antes de mim, sem pensar em quem pôde te ver crescer, te viu sem
forças, te viu lutar, viu tua caminhada até a minha queda bem na tua frente.
Não me importo o que te veio antes e quem te conhece do avesso. Só quero manter
meu nariz assim perto do teu e ser um elo – eterno – em tua vida.
Eu abri. Abri meus olhos, meus braços, meu peito, meu sorriso
e minhas verdades. Abri pra ser preenchida por tudo que tens pra me oferecer, a
vida ecoando no peito e fugindo por todos os poros. Ocupar lacunas e lapsos pra
me tornar nova, feito água corrente quando se joga tinta. Abri minha mente pra
aprender o que a vida te ensinou e abri meus braços pra te acolher a cada
desafio no teu caminho.
E, quando não havia mais nada que eu pudesse fazer, eu
consenti, fechei, levantei, calei e segui firme, porque eu já não era a mesma.
Fui remexida e me tornei algo novo como eu queria. Consenti com o teu silêncio
e a tua partida, embora não sem dor quando vi por dias o ninho vazio e o peito
sentindo uma saudade do que foi e do que poderia ter sido. Aceitei a partida e
parti com o peito ainda se refazendo da tua visita feito vendaval. Cheio de
doces remendos, quase pronto pra cair de paraquedas em mais uma vida. Outra
vez.
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