domingo, 5 de maio de 2013

Silêncios e anáforas





Quanto barulho faz o silêncio? Quanto o silêncio pode dizer? Quanto ele dói?
Eu pergunto porque li milhares de vezes o meu último texto e vi que em tudo que eu escrevo assim sem pressão de ser notícia, reportagem, ser algo ~sério~, tem um padrão. Na verdade vários.
Primeiro. Esse. Aqui. A. Pausa.
Que trazem drama, respiro, intonações. Falam bem mais do que as minhas palavras. Falam tudo que eu não disse.
Têm mais drama do que eu coloco, têm toda a força que eu preciso que tenham. O impacto para fazerem sentir.
Toda essa minha ansiedade, esse meu jeito de atropelar tudo que vem pela frente feito um tanque desgovernado, eu reflito nas minhas pausas. Deixo que elas, pouco a pouco, pausa a pausa, falem por mim. Elas se expressam melhor. Porque eu faço oitenta e sete mil pausas. De segundos que dentro da minha cabeça duram todo o tempo que a humanidade já caminhou. Pra quem tem sempre a cabeça fervendo de pensamentos e a língua formigando querendo pôr tudo pra fora, cada pausa, cada espera dessas é uma tortura. Mas uma tortura nunca foi tão necessária quanto essa que me obriga a parar.
E que eu aprenda com cada tortura que todas as decisões do universo não saem de mim. Para milhares delas eu sou completamente passiva, só preciso esperar. E quem disse, diabos, que eu sei esperar sem sofrer? Pareço uma drama queen, e que o mundo só de sacanagem diminui a velocidade e faz minha tortura aumentar.

E aí vem o segundo padrão, o segundo que potencializa o primeiro. A repetição de palavras, de silêncios, de dores, de egos, de dramas, de êxtases. A anáfora.
E assim fica tudo com cara de poesia, cara de movimentos que a gente estuda em língua portuguesa. Mas eu não consigo evitar, elas também têm drama, intensidade. Mas, num caminho oposto às pausas, minhas anáforas falam de novo, e de novo, e mais uma vez, e repetem, feito uma vitrola quebrada que vive se repetindo, e ganham (ou perdem) pela insistência.


O bom disso tudo é que eu posso - e faço o tempo inteiro - anáforas de silêncio. Aí eu deixo o silêncio falar várias vezes.
E abre brecha pra todas as interpretações do mundo, carregadas de vivência e de olhares diferentes. E é o que faz tudo mudar e adaptar a quem lê, a sua visão de mundo, e os meus problemas, desejos, medos e TOCs passam pra todo mundo e servem a todo mundo.
E é desse jeito que algumas coisas são famosas, por serem maleáveis a adaptáveis a verdades e histórias individuais. (não tô dizendo que meu lindo blog é famoso, pf né oloco haha)


Por fim, cultura. Eu sempre tive essa visão de que o silêncio fala e incomoda. Depois eu conheci um trabalho sobre isso. Trata-se do estudo do músico John Cage sobre o silêncio. Ele começa tratando o silêncio como algo empírico - a pausa na música - e depois acaba como não sendo uma simples ausência de som. É um modo de ação (adorei essa expressão), com um estilo, profundidade, aura, dimensão, densidade.
Bacana né? Isso só prova que eu não sou tão maluca assim =)

Quanto barulho faz o seu silêncio?

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